
Estamos no ano de 2020. Mais precisamente no segundo sábado do mês de agosto, um dia antes do dia dos pais. Na escolinha de Thor, um menino de sete anos, é dia de levar os pais para brincar e comemorar. Thor está ansioso.
Thor foi nome dado por seu pai em homenagem ao deus mitológico, grande, forte, nobre e imponente. Mentira, isso é o que ele disse para convencer sua mulher. Na verdade a homenagem foi ao personagem dos quadrinhos da Marvel, o que dá quase no mesmo, mas a mãe de Thor nunca aceitaria dizer aos outros que seu filho tinha nome de personagem de quadrinhos.
Já sobre o nome do pai de Thor – que não é Odin – não há o que dizer. Isso pois ele está na época de ser chamado apenas de “pai”. Até mesmo sua esposa começou a chamá-lo de “papai” como uma brincadeira carinhosa que perdurou pelos últimos sete anos e ainda promete perdurar. Seu nome, portante, é irrelevante para esta história.
Enfim, eis que estamos na escolinha quando, após uma homenagem dos alunos a seus pais, todos são convidados para brincadeiras no grande gramado do campo de futebol. As crianças correm freneticamente para apanhar as bolas, pipas, pernas de pau e outros brinquedos mais. Os pais acompanham, apesar do bucho maior e da disposição menor. Logo todos estão brincando.
O pai do Paulinho, amiguinho de Thor, está com seu filho jogando bola, batendo pênaltis. Revezam-se em quem chuta e quem defende. No gol, às vezes o pai do Paulinho deixa a bola entrar para fazer a alegria do garoto.
O pai de Thor acha bacana, mas não se arrisca. Futebol nunca foi a sua praia. Só daria vexame, não iria conseguir enganar nem o próprio filho.
O pai do Thiaguinho já é um cara mais velho, sendo que ali está com o filho caçula. Eles brincam com um iô-iô. O pai é especialista, lembra bem de algumas manobras como dorminhoco, volta ao mundo e cachorrinho passeando. O filho se bate para fazer o rolamento subir pela corda, mas se diverte.
Já o pai de Thor admira, mas não se lembra mesmo como se faz para brincar com um iô-iô. “Pai,vamos então soltar pipa? Olha ali, que nem o pai do Juninho” implora Thor.
O pai de Juninho está empinando pipa com seu guri. Ou papagaio, raia, pandorga, sabe-se lá como chamam. O vento, por sorte, está colaborando, e a pipa não para de subir. Mesmo assim, já é de se esperar a resposta do pai de Thor: “Não lembro como se solta pipa, filho”. Não lembrar, claro, é um eufemismo. Na verdade ele nunca aprendeu.
“Acho essas brincadeira todas um tanto quanto antiquadas” pensa o pai. Não veio preparado para isso. Absorto e com certa inveja dos pais dos amiguinhos, é então interrompido por seu filho, que agarra sua mão e diz:
“Pai, vamos pra casa jogar Playstation 5. Aposto que lá ninguém ganha de você.”
O pai enxerga o orgulho incólume nos olhos do filho. Seu orgulho é gigantescamente igual.
“Você tá certo, filhão. Vamos jogar.”
Murilo
Crédito Imagem: Dunechaser via Compfight cc