postado por Diamante Negro dos pinhais
O jovem Zia levanta da cama, arruma e limpa sua quitinete da maneira mais correta possível, rega as plantas, veste sua melhor camisa, entra no banheiro e se encara brevemente no espelho, num momento de prenúncio macabro para o espectador. Faz dois cortes no pulso direito com uma lâmina de barbear e espera pela morte ao som de “Dead And Lovely” de Tom Waits (link abaixo).
Estes são os primeiros quatro minutos de Paixão Suicida (Wristcutters – a Love Story). Estrelando Patrick Fugit (Quase Famosos, Cavaleiros do Apocalipse) e Shannyn Sossamon (Coração de Cavaleiro, Beijos & Tiros). Adaptação do diretor e roteirista Goran Dukik, baseado no livro “Kneller’s Happy Campers”, de Etgar Keret.
Zia chega ao além e se depara com uma cidade onde ninguém sorri e tudo é igual à vida anterior, “só que um pouco pior”. Trabalha na Pizzaria Kamikaze e gasta suas noites em bares conversando com os pares suicidas, bebendo e se lamuriando por causa de sua ex-namorada em vida, a bela Desiree. Até que eventualmente conhece o músico russo Eugene e sua família que está: Pai, mãe, Eugene e irmão, inteira neste mundo estranho. Ganha amigos.
Andando pelo mercado um dia, descobre que Desiree também se matou e, cansado da rotina que não leva a lugar algum, convence Eugene a acompanha-lo em viagem atrás da amada. Baseado numa espécie de “sentido aranha” do protagonista, que sente onde Desiree possa estar, perambulam pelas estradas e acatam em sua viagem a igualmente (se não mais) bela Mikal pedindo carona em um acostamento. Este é o quadro. Zia procura Desiree, Eugene não procura ninguém e Mikal procura as “Pessoas No Comando”, entidade esta que desfaria o mal entendido que a mantém neste limbo. Até que encontram Kneller (o magistral Tom Waits) e são forçados a parar em seu acampamento para consertar o carro em que viajam. E, obviamente, tudo muda e novas missões inerentes à jornada pessoal de cada personagem surgem.
Ótimo filme sobre jornadas pessoais, Paixão Suicida consegue ser engraçado sem forçar a barra e sem apelar para piadas bobas. E consegue ser sério sem usar para isto de trilha sonora deprê, ou diálogos profundos e chorosos. Bem dosada combinação entre um enredo envolvente, direção e fotografias que fogem de exibicionismos, embalados em uma produção aparentemente pequena e extremamente satisfatória de acordo com o objetivo proposto. É uma celebração bonita à vida e ao amor. Sobretudo ao amor próprio e ao “conhece-te a ti mesmo”. São as loucas jornadas da vida, suas reviravoltas, falsas e verdadeiras soluções que todos encontramos, pequenos e grandes milagres “retratados” e “comentados” por quem teoricamente não está vivo. Lembro-me brevemente do ideário por trás dos filmes e estórias de ficção científica envolvendo alienígenas ao assistir a este filme, com aquela coisa de “seres-de-fora-da-terra-falando-o-que-pensam-do-nosso-planetinha- véio”.
E eu tenho o DVD . Portanto quem quiser, me peça, que o aluguel sai por onze reais e cinquenta centavos, apenas.
E aí a canção supracitada.
Besitos.