Cotidiano líquido, tal qual a pós-modernidade 0 794

postado por Rafaé.

Que me perdoem os exotéricos, mas essa história de amuletos e oráculos que interferem em nossas vidas não passa de balela simbolismo. Já os céticos também me desculpem, pois não sou tão radical quantos estas primeiras linhas. Porque afinal de contas, sabe-se lá quem tá certo? Deus? Zeus? Enfim, uma fábula mitologia não anula a outra.

A verdade é que estamos sempre querendo explicações superiores para os fatos da nossa vida. Complicações? Talvez. Se compararmos nosso cotidiano com a mágica, veremos logo que sempre existiu um fio invisível levantando o lenço. Allah? Tupã? Enfim.

Talvez seja justamente esta a nossa dificuldade: satisfazer nossas necessidades com soluções simples – não fantásticas. O cotidiano nos fornece todas as possibilidades que, por serem óbvias, não satisfazem nossa necessidade de complexidade. Por que uma solução tão simples, enquanto temos todo o projeto da pós-modernidade pra explorar?

Possibilidades, crenças e projetos à parte, o que temos é um universo de respostas. Por isso, seguimos com nosso cotidiano repleto de mágicas – nem sempre brilhantes.

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Distante das Linhas de Nazca 0 1277

Thiago Orlando Monteiro

Alguns vazios aumentam sempre que tentamos preenchê-los. E geralmente, porque tentamos preencher com algo que não nos cabe, ou no mínimo não nos pertence.

Não há muito que se ver aqui em cima. Menos ainda há o que se orgulhar. O cinzeiro está transbordando de cigarros. Por cima da mesa são quatro maços vazios e mais um pela metade. Tem outro vazio que não dá pra ver, embaixo do sofá, mas isso é sobre outro dia. As latinhas de cerveja entulhavam a mesa de centro até agora pouco, agora só restam sete, as outras estão sobre a pia. São quatro e meia da manhã, não há mais tempo de se arrepender de nada.

O fluxo de ideias vem numa vertente capaz de mudar o curso de um rio. São dois furacões que espalham tudo o que acabaram de criar. Instantes após o caos a calmaria tenta se fazer presente. Mas não. Esse tipo de sentimento não é bem-vindo, não agora. O cartão de crédito transforma a pequena montanha em linhas. Tudo começa novamente. E só acaba um grama depois.

Nossos impulsos ruem nossa integridade. E como costuma acontecer, ruínas geram ruínas.

O nascimento do sol enfim consegue barrar o curso desse desastre natural. A sensatez, rara nessas condições, permite que três latas de cerveja descansem na porta da geladeira. Um banho quente ajuda a relaxar o corpo. Mas agora, nada é capaz de parar a mente. Já debaixo do lençol o coração bate como uma britadeira. O medo da vida toma conta outra vez. É curioso como tudo sempre lembra o seu contrário. Minha maior vontade era de não estar aqui. Perto de tudo o que me corrói e tão distante das linhas de Nazca.

Escrito pelo Gabriel Protski

Ilustrado pelo Tho

Carta a Hunter S. Thompson 0 1213

A temporada de futebol americano ainda não acabou. Ainda faltam bombas. Faltam andanças. Faltam confusões. Ainda falta muita diversão. Que venham mais 67. Mais 17. Que apenas venham. Mesmo que doa. Mesmo que canse. Mesmo que seja obrigado a conviver com o gosto de cloro. Talvez isso não seja plano para mais ninguém. Não importa. Que sigam os jogos, a temporada está só começando.

 


 

Carta de suicídio de Hunter S. Thompson:

“A temporada de futebol americano acabou.

Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andanças. Chega de natação. 67 anos. São 17 acima dos 50. 17 mais dos que necessitava ou queria. Aborrecido. Sempre grunhindo. Isso não é plano, para ninguém. 67. Estás ficando avarento. Mostra tua idade. Relaxe. Não doerá”

 


 

Gabriel Protski