postado por Rafaé, o corporativista.
Das tardes que já vivi, a de hoje foi a que não acabava nunca. Vinte e três anos esperando que algo especial aconteça em minha vida; e hoje, justamente hoje (dia de Santo Expedito), ela veio: a promoção.
Ao retornar no almoço, um bilhete sobre a folha-ponto me convocava para a sala 312. A sala da direção. A ideia de uma demissão passou como um raio. Mas caso fosse, não precisaria passar por lá antes de chispar dali.
Ao som das trombetas do som frio e ambiente, a notícia: “A partir de agora será o responsável pelo departamento”.
Sim! Chefe! O título não foi mencionado, mas eu sei. Agora sou chefe! Resolvo tudo na canetada. Os chefes somos assim.
Voltei arrumar minhas coisas. A velha violeta irá para o lixo. Comprarei alguma orquídea, ou outra planta com nome mais significante. Outro dia vi um programa de TV que falava em begônias. Deve ser chique.
Peguei as quinquilharias que não me servirão mais, enrolei como linguiça e carreguei como capacho pro lixo.
Minha sala continua a mesma. A mesa também. Mas meu crachá mudou. Agora sou Auxiliar de Serviços Gerais II. A ironia é que eu não auxilio ninguém! Esse mundo corporativo é mesmo muito engraçado. Todo o serviço aqui no almoxarifado é feito só por mim, vejam só.
Mas tudo bem. A empresa tem uma política e eu não vou mudá-la. Afinal de contas, coisa de greve e mudanças é ideia pra funcionário. Agora é hora de mandar. Aliás, agora que tenho um telefone na mesa, “Rosa, veja uma garrafa de café aqui no almoxarifado. Me chame de Cosme, por favor”.