Postado por Marco Antonio,
Entre impressões coloridas e em preto-e-branco J flagra a si próprio em uma crise brutal de consciência. Flagra-se, em terceira pessoa, como se ele e sua alma fossem entidades distintas e independentes uma da outra e pudessem, assim, contemplar-se admirativamente ou desprezar-se descompromissadamente.
J reflete sobre a atividade a que se submete para ganhar o dinheiro do aluguel e das refeições, e não gosta do que vislumbra. J opera máquinas, impressoras, computadores, capas de plástico e grampeadores durante oito horas diárias, e agora está pensando que cópias e impressões não são assim tão legais, que deve haver mais emoção em produzir que em reproduzir, e que há de haver algum resquício de ineditismo ou surpresa em algum lugar, mais provavelmente dentro de algum labirinto na própria mente.
O som cada vez mais alto de uma sirene, e a rua cheia de veículos cuspindo fumaça. A água acabou, e o cara só consegue trazer o novo galão daqui uma hora. A moça da lanchonete em frente não trabalha mais ali, e J está decepcionado. Viver não faz sentido, e essa constatação provavelmente doeria muito mais no passado selvagem.