postado por Murilo, o de poucas expressões faciais.
Pai, confesso que estou de caso com a Morte. Tentei não me envolver, mas foi difícil. Há algum tempo ela tem flertado comigo. Nas ruas, nos bares, na noite. O que eu poderia fazer? Não consegui escapar.
Contudo, pai, não pense na Morte como aquela esquelética de foice na mão. Em verdade digo que ela tem carne, pele, sangue e tudo mais que se há de ter além de ossos. E é bela. E como é bela. Seus olhos, tenho que admitir, são profundos como dizem por aí. Acho que ainda não consegui enxergar o fim deles.
Talvez um caso com a Morte possa parecer apologia ao suicídio, mas garanto que não é essa a situação. Nesse momento feliz da vida, seria mesmo bobagem me matar. E fique tranquilo, pai, pois a gadanha ela não leva a encontros, e felizmente não gosta de falar de seu mórbido trabalho. Prefere sair de noite e mora longe, por isso tenho voltado tarde.
Não nego que seja uma relação perigosa. Mas bem dizia alguém que estar perto da Morte faz sentir-se mais vivo. Ironicamente – e ela gosta de uma ironia como ninguém – ela é vivaz como poucos, e foi mesmo emanando toda essa vida que ela me ganhou.
Essa Morte, pai, eu não desejo a ninguém. A ninguém além de mim mesmo.
Um elogio à Thânatos.
Murilo, você é o Sísifo da contemporaniedade.