Postado por Murilegend
Alfredo tinha um bichinho por dentro. Um vermezinho desconhecido, adepto da insatisfação. Uma recorrente sensação de que tinha negócios em aberto a resolver.
Desde jovem percebeu que podia acalmar o animal ao resolver suas questões pendentes. Mas também muito cedo viu que esse bicho parecia mais com um inseto, daqueles que zumbem e zunem e, quando você mata, surgem outros em seu lugar. A cada problema resolvido novos apareciam. A cada compromisso cumprido, novos vinham lotar a agenda.
Buscando se livrar de tamanho flagelo, Alfredo tentou resolver tudo que podia. Conseguiu um bom emprego, arrumou uma ótima mulher, teve filhos, subiu na carreira, criou bem os filhos, ficou rico, viajou mundo afora, ajudou os necessitados, plantou uma árvore e escreveu um livro. No entanto, o bicho não morria. Continuava a zumbir e tiritar no frio inverno da sua barriga.
Com 90 anos de idade, o velho incontentado ainda se arrependia pelo pouco que não havia feito, e se preocupava com os pequenos percalços de seus filhos e netos. Nessa altura da vida, ele sabia que podia ter eliminado o bichinho há muito tempo. Poderia ter virado hippie ou alcoolatra, ou procurado uma vida mansa no campo.
Contudo, sabia também, se tivesse matado o bichinho, teria matado a si próprio.
pós-modernidade-destilada.
Êta! Acho que tenho o tal do bichinho…