O triunfo da falta de vontade 0 877

Espere outra hora pra fazer.

Espere alguma coisa boa acontecer.

O dia virar noite, a noite virar dia

com o sol que invade o céu,

 

até o que não devia.

 

Espere a festa acabar.

Espere o dono fechar a porta do bar.

Espere a pedra rolar a montanha

e traga ela de volta pro mesmo lugar.

 

Espere no consultório.

Espere no escritório.

Espere alguém limpar sua mesa,

seu chão, sua parede, sua vida, que seja.

 

Espere outro beijo de lábios frios,

e depois por outros anos vazios.

Espere o que não poderá entender.

Espere outra vida pra dizer.

 

Espere todo mundo ir embora.

Espere uma hora boa (não é agora).

Espere o sinal que vem das nuvens.

Espere o começo da chuva.

 

Marco Antonio Santos

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Sua 0 1525

como fosse poema,
você me talha

me transforma
em versos
belos pra você

feito rima
sigo torta

nesse mundo
que tem tudo,
belez’alguma
é pra mim

ao redor,
só a dor
do que fui
até o fim.

 

texto: Rafael Antunes
ilustração: Nina Zambiassi

Poemanarco 0 1057

quis poupar palavra
quando meia poesia
já sozinha caminhava.
– Como ousa? – ruge o verso –
pôr-me em síntese, assim?
fazer tão pouquinho de mim
que transcendo o dicionário,
que falo francês e latim?

larga dessa, poetisa.
Deixa o verso se gastar
que ele não é teu pra fazeres economias:
trova sopra ventania,
rima voa em boa brisa.
Solta a palavra que ele te pede
mata nele toda sede
até que o novo do novo
um dia, quem sabe,
corrompa o decreto
de encaixar esse ímpeto
tão lascivo e tão sem teto
na rotina de um soneto.

Carol G