Filhas, freelas, pilhas, baterias, tomadas, adaptadores. Filas, milhas, cedilhas, centelhas, centeio, seus campos. Um mambo, uma bossa, as apostas, a amostra de produtos grátis. O táxi que não chega. A grande tradição grega. A Grécia, a Suécia, a Polinésia, a anestesia local, geral, do corpo, na alma.
O mal, a corda bamba, um samba torto, o extintor, o computador, a humanidade em geral. Os anos que passam, a raiva que dá origem às revoltas, a revolução que acontece e a grande, que não, a falta de pão, o caixão, o caixote e o prego que prega o corrimão. O skate e o cifrão. Os processos e seu ideário suspeito de otimização. As palavras e todos os campos de definição de termos, as termas, as saunas do centro, todos os que estão lá dentro, os cantos escuros, o chão preservado, a história de cada lugar. E essa calçada, vem de onde e é de quê? E que interesse que há?
A cifra, a tablatura, a partitura, a parte um e a parte dois. As outras que virão depois.
O relógio, o horário, o itinerário, o rito funerário, a viagem de férias, a praia, as estrelas e toda a matéria, o metrô que é só projeto, o teto e o chão. O primo e o irmão. A prisão que não desencadeia reação. Os tempos que morreram, os que morrem a cada momento e os outros, que morrerão (estes, ao relento).
O fugaz, o rei, a rainha, o nove de copas e o ás.
No reino do medo há falta de paz, que nele não passa de uma promessa furada, ou seja, daquelas mais comuns, que rapidamente ficam para trás.
Meu Deus: o Senhor sabe que eles amam a si próprios com intensidade maior que a do amor dos Seus! Os egos inflados, o que não é explicado, a falta de vontade de entender, a tevê, a piada do pavê, o desconforto, quem é absorvido e nunca descobre que está, assim, morto: há falta de paz.
Somos do mesmo que tudo? Areia, sangue, céu, neve, sonho, papel, o entrave, o sempre, o engov?
A busca pela saúde, os grãos da moda, as sempre-mais-longas-que-o-necessário discussões sobre as propriedades benéficas ou não do café, do vinho, do ovo, da margarina, da soja, das proteínas, da cerveja, das vitaminas do momento, os biquínis, as bermudas (ou as sungas?), e os ventos. A compreensão plena, a noite serena, algumas cenas, alguns poemas, as vidas pequenas e os planos banais.
A falta de paz, a falta de paz.
Os discursos corporativos e as paredes que com eles se estreitam. As outras paredes estreitas. Além, é claro, dos caminhos secretos, dos segredos, das nuances da vida, das chances perdidas, dos romances doídos, das perguntas vazias, das respostas vagas, do que é pouco interessante: desde o vídeo da infância até as discussões sobre os ou as amantes. As famílias felizes, os turistas perdidos e tudo o mais.
A falta de paz. A falta de paz.
Marco Antonio Santos
Excelente texto, Marco! Foge ao seu estilo padrão, mas acho que a surpresa faz parte do prazer de lê-lo! Muito delicado, muito pertinente.